Será que você está pronto?
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Será que você está pronto?

Quando pensamos em sustentabilidade, é claro que a competência técnica é bastante importante. Porém, em um rápido levantamento em sites de emprego e outras empresas que contratam profissionais da área, é possível perceber que em torno de 70% das competências que as empresas mais demandam, são competências comportamentais (ou Soft Skills). Mas não se surpreenda porque isso não acontece apenas na área de sustentabilidade.

As pessoas que eu atendo na Denpec, e que estão preocupados com a transição de carreira para a área de sustentabilidade, me pedem para ajudá-las a desenvolver algumas de suas competências comportamentais, notadamente, comunicação e liderança. Mas será que só essas competências são suficientes?

Durante toda a minha carreira como executiva e docente, eu percebi que haviam pontos de coincidência entre os executivos que melhor se posicionavam em suas carreiras. Aqueles que se sobressaíam eram profissionais que possuíam Soft Skills bem desenvolvidas como: liderança, trabalho em equipe, comunicação nos diversos níveis da empresa e com diferentes empresas, capacidade para fazer network, capacidade para realizar autoanálise, responsividade, e outras mais, além, claro, da competência técnica.


Competências comportamentais são tão importantes que deveriam ser ensinadas desde o jardim de infância


As Soft Skills são tão importantes que deveriam ser ensinadas desde cedo nas escolas, mas infelizmente não são. Para se ter uma ideia de sua relevância, a editora Routledge publicou 6.528 volumes em Soft Skills até 2020.

De acordo com Maria-Teresa Lepeley, uma das maiores especialistas no assunto quando o tema é Soft Skills para a sustentabilidade, as competências comportamentais são a linguagem operacional para colocar a Gestão do Capital Humano (HCM) em prática. As competências comportamentais agilizam as comunicações entre as pessoas em um grau muito superior às habilidades técnicas e cognitivas. Lepeley defende ainda que em Gestão do Capital Humano, nos referimos e escrevemos Soft Skills com letras maiúsculas para diferenciá-las de soft skills genéricas comumente obscurecidas em situações complicadas, desconcertantes e de aplicações duvidosas.

As habilidades técnicas (Hard Skills) são restritas à campos, áreas de conhecimento e tarefas específicas, já as competências comportamentais não só facilitam a compreensão no local de trabalho, mas são transferíveis entre organizações, indústrias, setores e nações, por isso estão em alta demanda na força de trabalho.

O último relatório de empregos do Fórum Econômico Mundial relata que o futuro da força de trabalho exigirá habilidades interpessoais e de liderança (como empatia e colaboração), e isso é tão verdadeiro para profissionais de sustentabilidade global quanto para outras carreiras. De acordo com o relatório, em 2025, o pensamento analítico, criativo e flexível estarão entre as habilidades mais procuradas, além das habilidades de auto gerenciamento, como aprendizado ativo, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade.


As coisas não podem mudar e melhorar, se as pessoas continuarem fazendo o mesmo.


No século passado, e antes do advento e do uso generalizado da tecnologia, “até era aceitável” algumas atitudes letárgicas que poderiam facilmente perpetuar o status quo. Mas hoje, em um ambiente global VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) do século XXI, esse tipo de comportamento não se justifica mais, é o que diz a professora Rebecca M. Henderson, de Harvard.

O mundo está altamente complexo e os objetivos das empresas mudaram. As crises são a norma, não a exceção. Em termos de resultado, uma crise pode ser um desastre ou uma bênção dependendo da atitude das pessoas e organizações, sugere Lepeley. Manter o status quo pode levar à entropia de pessoas, organizações e até nações. As mudanças climáticas e o efeito das ações do homem no meio ambiente chegaram a um limite tal que compromete a nossa continuidade como sociedade e até mesmo a nossa existência no planeta.

O alento é que mais do que nunca, pessoas e organizações têm a oportunidade de assumir a responsabilidade por meio de melhorias, tal como a possibilidade de incorporar atitudes que promovam resultados melhores. “Temos a oportunidade de provocar interrupções na norma vigente sobre progresso e prosperidade”, lembra Henderson. Nesse ambiente incerto, as Soft Skills levam vantagens sobre habilidades cognitivas e técnicas graças ao uso de uma linguagem comum e formas mais eficazes de comunicação social na vida real e em organizações de alto desempenho, afirma Lepeley.


Competências para a sustentabilidade


Competências Técnicas (Hard Skills)

Para implementar práticas sustentáveis em sua organização, é preciso ter uma compreensão básica da ciência ambiental e das mudanças climáticas. Além disso, é preciso conhecer as questões sociais mais prevalentes em seu setor e comunidade e a natureza sistêmica de ambos. O próximo passo é saber como a sua empresa está impactando cada uma dessas áreas, o que pode implicar na realização de uma auditoria de sustentabilidade. Embora diferentes para cada empresa, Henderson sugerealguns fatores a serem considerados ao realizar uma auditoria de sustentabilidade:

  • felicidade, direitos, representatividade e qualidade de vida dos atuais funcionários;

  • quantidade de resíduos produzidos anualmente;

  • níveis de emissão de carbono;

  • toxinas usadas no processo de fabricação;

  • voluntariado e engajamento cívico;

  • resíduos e toxinas criados no ciclo de vida do produto; e

  • infraestrutura necessária para apoiar práticas sustentáveis.

Por fim, ela sugere uma reflexão sobre o que leva a organização a implementar práticas de sustentabilidade. Com um “porquê” claro por trás do seu propósito, você pode liderar uma equipe com lógica e paixão.



Competências Comportamentais (Soft Skills)


Jeniffer Wills, da Virginia Tech e especialista em Soft Skills para a sustentabilidade, interpreta o artigo de Harvard “7 habilidades que não estão prestes a ser automatizadas” e faz contribuções sobre a aplicação das Soft Skills no mundo da sustentabilidade:

  1. Comunicação persuasiva: com o uso de storytelling. A comunicação é a habilidade fundamental para os profissionais de sustentabilidade.

  2. Conteúdo, experiência e compreensão sobre um determinado tópico: embora não seja uma habilidade interpessoal, os profissionais de sustentabilidade devem ter pelo menos uma área de especialização, seja a “sustentabilidade” em si ou um aspecto específico da sustentabilidade, como economia circular, análise do ciclo de vida, relatórios ou alguma outra especialidade da área.

  3. Contexto e capacidade de modificar sua apresentação com base em seu público.

  4. Competência emocional: compreender as emoções de seus pares e partes interessadas sobre uma determinada situação.

  5. Ensino (formação): compreender as lacunas de habilidades e conhecimentos das pessoas em sua organização e como esses indivíduos se relacionam com as necessidades da organização.

  6. Network: Ser capaz de acessar uma vasta rede de pessoas.

  7. Valores morais fortes: ter valores morais e éticos fortes é essencial para nós como seres humanos. Para o profissional de sustentabilidade é importante porque ao longo da carreira, muitas vezes, é necessário realizar julgamentos e ter esses valores para recorrer no momento da tomada de decisão.

Além desses, Wills ainda sugere competências transculturais e uma mentalidade global. Os profissionais de sustentabilidade devem entender os desafios e oportunidades das corporações multinacionais, bem como desenvolver aquela parte do repertório de liderança relacionada à diversidade e valorização cultural.

Virginia Cinquemani, mentora italiana erradicada na Inglaterra e com formação em arquitetura, outra especialista no assunto, elenca as Top 5 skills para os profissionais de sustentabilidade:

  1. Competências técnicas

  2. Comunicação (ouvir e falar)

  3. Vendas (que implica em assertividade, influência e storytelling)

  4. Gestão de Projetos e Pessoas

  5. Resiliência

Em uma matéria recente junto à especialistas da área de ESG, a Forbes apresentou oito competências que os profissionais da área devem ter:

  1. Curiosidade: saber o que acontece em todos os setores e esferas e acompanhar o que as principais organizações estão discutindo a respeito de meio ambiente e direitos humanos.

  2. Ouvir especialistas: buscar ajuda de especialistas para tirar dúvidas, encontrar soluções e viabilidades para os possíveis projetos, e estreitar relações com eles.

  3. Espírito participativo e colaborativo.

  4. Capacidade analítica: capaz de compreender os acontecimentos e elaborar estratégias coerentes. Isso exige que o profissional saiba onde buscar dados para fazer análises e criar indicadores que o ajudem a reconhecer se aquilo que uma empresa está construindo está indo na direção certa, além de garantir que suas ações de viés ambiental e social sejam eficientes e assertivas.

  5. Atitudes construtivas e transformadoras: Não basta apenas reconhecer riscos e oportunidades em projetos de sustentabilidade, é preciso ser uma pessoa de iniciativa e capaz de gerar transformações nas comunidades, seja uma mudança de curto ou longo prazo.

  6. Liderança: Além de sobreviver a impactos econômicos, as empresas precisam se antecipar e mudar suas abordagens conforme o mercado e as culturas.

  7. Conhecimento tecnológico: ter amplo conhecimento de ferramentas tecnológicas que possam ser aliadas em pautas sociais, ambientais e de governança.

  8. Capacitação constante: para aprofundar o conhecimento sobre sustentabilidade, impacto social e governança, além de destacar tendências que afetam o mundo dos negócios e caminhos para o desenvolvimento de carreira que gerem impacto, busque estar sempre atualizado.

Finalmente, Lepeley chama a atenção para duas Master Skills para a Gestão do Capital Humano: Resiliência e Agilidade. Segundo ela, estas são duas dimensões complementares em organizações apoiadas por pesquisas substanciais para alcançar melhoria contínua, padrões de qualidade, alto desempenho e sustentabilidade a longo prazo no ambiente global VUCA. Embora a Resiliência esteja associada à estrutura de estabilização organizacional, a Agilidade é relevante para estratégias organizacionais sustentáveis. Resiliência e agilidade são características organizacionais tácitas ativadas pelas pessoas. De acordo com ela:

  • Resiliência: a capacidade de se tornar forte, saudável e bem-sucedido depois que algo ruim aconteceu. É a capacidade de se recuperar rapidamente de dificuldades, problemas, restrições e interrupções inevitáveis com força de vontade, determinação, empoderamento e resistência para melhorar continuamente. A resiliência é uma característica de estruturas organizacionais de alto desempenho.

  • Agilidade: a capacidade de mover e mudar de direção rapidamente com coordenação, equilíbrio e velocidade, otimizando respostas para mudanças de situações. A agilidade é uma função de imaginação, criatividade e coragem para empreender riscos calculados, de forma a avançar da condição atual para uma situação melhor. A agilidade é essencial na melhoria contínua e na inovação. A agilidade é uma característica de estratégias organizacionais altamente competitivas.

De qualquer modo, a lista de Soft Skills é longa e está em constante evolução. Ela está sujeita a ajustes e aprimoramentos contínuos que convergem com as necessidades emergentes nas organizações visando atender o bem-estar das pessoas e a competitividade organizacional. A lista de Soft Skills inclui atributos pessoais usados ​​em interações sociais gerais e Soft Skills ocupacionais usadas no local de trabalho. Embora as primeiras ajudem no avanço no local de trabalho, as Soft Skills ocupacionais são direcionadas para a obtenção de um emprego, sendo adaptáveis ​​às demandas atuais do mercado de trabalho em diferentes setores produtivos.


Como profissional da área durante muitos anos, e baseada em minha experiência como mentora, eu percebo que as competências comportamentais são dinâmicas e devem ser adaptadas conforme o perfil/mercado da empresa. Porém, eu percebo que devido a resistência em relação ao tema, vejo a resiliência, a comunicação, adaptabilidade e a visão sistêmicas como as competências que não podem faltar aos profissionais da área.

  1. Resiliência: esta competência é desenvolvida a partir do autoconhecimento e autoaprendizagem. A síndrome do impostor e a solastalgia são sintomas constantes dos profissionais da área.

  2. Comunicação: e aqui incluo a capacidade de ouvir seus pares e stakeholders e de saber contar histórias (story telling). É preciso ser um bom ouvinte para contar boas histórias.

  3. Adaptabilidade: capacidade de se adaptar à diferentes públicos. O profissional de sustentabilidade tanto transita entre altos executivos, como institutos de pesquisa e, até mesmo cooperativas de catadores, órgãos públicos e novas lideranças.

  4. Pensamento sistêmico: capacidade para perceber que cada um de nossos atos tem um reflexo, e que esse reflexo pode impactar a vida de pessoas que nem sequer imaginamos.

  5. Espírito de liderança, trabalho em equipe: cabe a estes profissionais, em muitas ocasiões, liderarem grupos de força tarefa ou projetos específicos. Neste caso, características de liderança e trabalho em equipe são fundamentais.

  6. Formação de redes de relacionamento: o network ajudará o profissional a obter respostas de especialistas e estar sempre bem informado sobre o que está acontecendo ao seu redor.

  7. Responsividade: se antecipar as necessidades do mercado.


Não é minha intenção aqui ser guru da sustentabilidade, ou seja, não existem fórmulas mágicas e tampouco modelinhos pré-estabelecidos. Eu entendo que estas competências são as mais pertinentes para a função e, claro, devem ser adaptadas a cada mercado e empresa.




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